Atlas - Jorge Luís Borges
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Certamente, histórias muito mais interessantes.
Preciosidades guardadas numa grande velha estante de madeira nobre, que também
já viu e ouviu muita coisa. O homem olha. Respira profundo frente sua herança,
coletânea invejada por muitos que chegam à sala numa visita ao velho amigo. Ao lado,
uma ordem de CDs, DVDs, vinis e algumas outras publicações que hora ou outra
também foram ou serão de interesse para eventual assunto. O teto é alto,
revelando a casa antiga, joia daquela cidade mal fadada.
É neste templo que os amigos olham as palavras novas que
serão ditas. Aquilo que irá vir a ser. Sentam-se os amigos do homem no
confortável sofá e degustam aquelas descobertas contemporâneas, como quem
investiga um deserto em busca de uma nova espécie. No lugar da lupa, a caneta
vermelha. No lugar do chapéu, o ventilador de teto compondo a trilha sonora daquele
momento. Os encontros se dão com frequência, embora os encontros oficiais se
deem de dois em dois meses. Eles estão em três e há um filho para parir. O
ventre pertence a três humanos, inoculados por diversas pessoas. Ao nascer, o
filho dessa orgia sai para o mundo como um bezerro que já nasce caminhando,
aprendendo nos primeiros minutos de vida a ser dono de si. È a palavra sem rumo
como água, sem poder ser presa por qualquer mão. Tem gente que quer falar. Tem
gente que quer ouvir. Tem gente que precisa ouvir. Tem gente que quer ler,
precisa ler, precisa aprender. Os pais tem pressa. Um filho nasce. O outro já
está por vir. O homem observa. Contempla aquele ciclo diante dos amigos, naquela
velha sala, ao lado dos livros seus.
O vento sopra lá fora. Samambaias sacodem suas mil folhas e
seguem a direção da terra. É fim de tarde e sete ou oito gaivotas vão rumo aos
galhos do rio. Ao sentir a brisa que corre, o homem não hesita: - com licença
-, diz aos parceiros de sala. Toma o copo d’água nas mãos, arrasta a sandália
em direção à porta e contempla a paisagem de todo fim de tarde, privilégio que
pode ter de sua varanda.
Há dez anos, essa rotina se repete. Há dez anos, publicar
sua revista – que também é dos seus pares -, é como fazer, parir e ver seu
filho evoluir. O homem respira, aliviado. Fez-se o bem. O homem purifica-se. O
homem sorri. Naquele momento, Fernando se sente vivo.
* Para Fernando Gomes, editor da Revista Cachoeiro Cult.
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